“NO ASPECTO ECONÓMICO, CONTINUAMOS A SER MONO-PRODUTORES”
Como avalia o desempenho do Executivo que termina agora o mandato?
É relativo. No aspecto económico, continuamos a ser mono-produtores. A agricultura podia fazer a diferença, mas ainda dependemos do barco.
Como pensa que se podia materializar o velho sonho de Agostinho Neto, segundo o qual, “a agricultura é a base, a indústria o facto decisivo”?
Pôr isso em prática, na medida em que as receitas que arrecadamos não sejam desviados. O IGAE diz que temos 100 mil milhões de dólares fora, por via da corrupção. Se esse dinheiro fosse empregue racionalmente, talvez o nível de dependência não seria tão alto. Realmente, existe o combate à corrupção, embora se fale de selecção, no sentido de que alguns não podem ser tocados. Isso descredibiliza as instituições.
O que está a escrever neste momento?
Neste momento tenho dois manuais. O primeiro trata-se de uma reedição, que me foi recomendado a fazer, sobre “A população e o mercado de trabalho em Angola – Emprego e Desemprego”, que poder ser publicado entre Agosto e Setembro. O segundo é fruto de uma cadeira que lecciono – ‘Demografia Económica, que se encontra numa entidade patrocinadora.
No essencial, o que é que “A população e o mercado de trabalho em Angola – Emprego e Desemprego”, transmite?
Descrevo o mercado de trabalho em Angola, com realce para o facto de a oferta ser reduzida em relação à procura. Além das Keynes, muito referenciado nas políticas macroeconómicas, apresento como funciona o mercado dualista de Angola, onde predomina o sector informal, de que falámos há pouco. O sector formal não consegue a tempo e hora dar resposta às necessidades do emprego. Defendo que se repense a filosofia da formação, porque até aqui tem-se a mentalidade de que quem sai da universidade é que tem maior propababilidade de singrar, mas a prática mostra que muitos estão no desemprego. O obejctivo é criar mentalidade a um jurista, um médico ou filósofo que além da formação clássica deve ter a capacidade de fazer outra tarefa, para não ficar de braços cruzados à espera do emprego. A formação tem de ser multidimensional e tem de se meter na cabeça das pessoas que qualquer outra actividade pode permitir-lhe singrar, através do seu próprio negócio. E essa campanha não deve ser partidarizada. É um dos problemas da pergunta que você me fez, sobre as minhas inquietações. A partidarização é demasiada. Para quem viveu no tempo do partido único, como eu, não mudou profundamente. Tem de haver menos partidarização, porque há boas iniciativas e bons técnicos fora dos partidos que podem assumir alguma responsabilidade.
Quais acha que serão os granddes desafios demográficos do Executivo que sair dessas eleições?
Educar a população em matéria de saúde reprodutiva, como dizia Mandela: “Education is the most powerful weapon you can use to change the world.” (“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”).
ENTREVISTA
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2022-08-01T07:00:00.0000000Z
2022-08-01T07:00:00.0000000Z
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