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Literatura: um mundo transversal

Tipicamente, perguntase: que saberes ensinar nas aulas de Literatura? Fácil! Se se ensina literatura no campo das línguas, então é óbvio ensinar-se aspectos relacionados à Gramática, Estilística como as figuras de estilo, metrificação e os próprios gêneros literários. Evidentemente, esses aspectos são importantes. Todavia, será que a literatura se prende, somente, como alguns têm feito, ao campo das línguas? Será que se pode aproveitar mais deste mundo aberto? De forma simples, sim! Pois a Literatura é um mundo transversal.

O dicionário online DICIO conceitua a palavra transversal “como algo que atravessa, que passa de um lado para outro; característica da disciplina que possibilita compreender outras, tendo em conta as relações estabelecidas entre elas”. Esse é o ponto. Ao afirmar que a Literatura é um mundo transversal, quer-se, na verdade, discorrer que ela possibilita não só o conhecimento dos aspectos que cingem à Gramática, Estilística, metrificação e aos próprios gêneros literários. É importante que os professores percebam que focarse simplesmente nesses aspectos reduzem a literatura, minoram a literatura, matam a literatura. A literatura é um mundo. Se os professores apenas olharem para os conhecimentos gramaticais e estilísticos, estarão a reduzir a literatura a um país. Por esse motivo, seria interessante e de grande magnitude se os professores experimentassem uma ruptura e trabalhassem os operadores transversais da literatura, mencionados por Meschonnic (s. d): a língua e a metodologia.

A Língua pode ser conceituada como conjunto organizado de elementos (sons e gestos) que possibilitam a comunicação. Ela reflecte a identidade de um povo, acarreta a oralidade, que é a representação social de um povo, e serve como elemento de unidade nacional. Aliás, a literatura é um dos domínios da língua, portanto a língua como instrumento de comunicação entre os indivíduos carrega também a representação cultural evidente na expressão literária.

O que se requer é que estes dois elementos caminhem juntos, mas não de forma limitada como tem acontecido. Deve-se trabalhar correctamente o carácter interdisciplinar das áreas mencionadas. Repare: A língua representa a sociedade. A sociedade faz menção à cultura. A cultura é literatura. Logo, a literatura explica a língua em vários âmbitos da vida humana.

É! A literatura explica a língua em vários âmbitos da vida humana. Não só a Gramática, não só a Estilística, mas em várias áreas do saber humano. O literata e linguista Meschonnic (s. d. p. 469), já citado, diz que “quem ensina língua [o que inclui a literatura] tem de ter em conta as ciências humanas”. Com as metodologias certas, segundo Meschonnic (s. d), os ensinos da literatura deveriam ser o lugar estratégico para trabalhar a teoria da linguagem. Trabalhar a teoria linguagem é trabalhar para a eliminação das fronteiras entre estas disciplinas que juntos formam as ciências humanas. Não se pode preencher a língua só com ensino da Gramática, ensinos esA partir dos textos literários, pode se trabalhar em vastas áreas das ciências humanas. É crucial isto. Os textos literários contam a história de uma nação (poemas de Agostinho Neto em Sagrada Esperança, trabalhando a área de História), contam a divisão de classes sociais (Predadores e A Montanha da Água Lilás, trabalhando a área de Sociologia de Pepetela), a desconstrução de um preto para a construção de um assimilado (Mestre Tamoda, de Uahenga Xitu, trabalhando a área de Sociologia) e muitos outros exemplos que ajudariam no âmbito educacional dos alunos. Decerto que seria um jeito mais “bem” divertido de aprender ciências humanas. Graças a interdisciplinaridade das áreas da língua, metodologia e literatura.

Destarte, sabe-se, agora, que ensinar literatura não é só uma actividade mecanizada de metrificação, versificação, figuras de estilo e o ensino da Gramática também. É mais abrangente do que isso. É primordial que os professores tentem uma ruptura e trabalhem os operadores transversais da literatura. O professor de português, ao ensinar literatura, tem de investir na sua própria aprendizagem e no seu desenvolvimento cultural. Não é de se admirar que uma das maiores competências a se exigir de um professor de línguas, que ensina literatura, é de ser possuidor de um saber específico resultante de vários saberes.

Os ensinos da literatura deveriam ser o lugar estratégico para trabalhar as ciências humanas. Não se pode preencher a língua só com ensino da gramática, ensinos estilísticos, etc. Desta forma, estar-se-ia a aproveitar da melhor forma a Literatura: um mundo transversal.

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2023-03-30T07:00:00.0000000Z

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