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O mercador da palavra

DITO BENEDITO

Sentado, sentindo a fragilidade do vento, eu lia o livro de contos angolanos escrito por nove jovens escritores da nova geração. Pelo Poder Popular era o título estampado na capa. Enquanto viajava naquele amontoado de letras que, na minha mente, ganhavam sons e formas de seres semelhantes a mim, sentou-se junto à mim um senhor de velha idade procurando saber de quê se tratava a obra. Disse-lhe que eram contos, nossos, escritos para nós e para quem gosta de boa literatura. O senhor sentou-se sem que eu o convidasse e recebeu-me o livro de capa preta. Disse-me que lamentava, mas que precisava fazer o que irei relatar.

- Vou interromper a sua leitura para dizer-lhe o que julgo ser necessário para alguém da sua idade.

- Estou de todo ouvido, Mais velho.

- Meu jovem, comummente estamos ligados às pessoas, por laços sanguíneos, afinidade e até mesmo por imposição. As pessoas ao nosso redor quase sempre influenciam o modo como vivemos. Algumas, conforme sabemos, andam sem beira nem eira parecendo não ter objetivos por alcançar.

Neste fragmento daquilo que poderíamos chamar de conversa, vamos denominar tais pessoas por Vírus, pois, conforme sabemos, os vírus são sutis, agem na sombra e só damos por eles após nos terem causado algum prejuízo. Os vírus, meu jovem, com subtileza empenham suas energias para destruir os planos e projetos dos que estão empenhados a viver melhor do que eles.

Os vírus encontram-se nas famílias, escolas, empresas, igrejas e vários outros grupos sociais. Estão entre os mais ricos aos mais pobres, estão desde a adolescência à terceira idade. Geralmente fingem estar próximo, disfarçando as reais intenções. Abraçam aguardando a oportunidade para agir e revelar os seus propósitos.

Difícil é, mas não é impossível identificar os sinais ou padrões que revelam suas hostilidades. Geralmente são resmungões; nunca satisfeitos; conseguem facilmente encontrar defeitos nas realizações e conquistas alheias, têm, sobretudo, uma grande capacidade de transformar o certo em errado e vice-versa.

Os Vírus são ótimos em influenciar pessoas fracas a fazer o que é errado, não se incomodam em levar alguém ao abismo, pois, é lá o seu habitat. Se os vírus identificam um alvo, fazem de tudo para que este seja mais um perdido como eles. É fácil encontrar-se ladeado deles, porém existem formas de resistir as suas tentações, caso não haja alternativa senão manter-se próximo deles.

Se estiver a ouvir uma conversa de Vírus e não ter como ausentar-se, evite argumentar, calese ou procure mudar de assunto quando lhe dirigirem a palavra. Se você for audacioso demonstre o seu desagrado pelo tipo de conversa e eles notarão que você é diferente deles.

Evite parecer vulnerável, demonstre ser determinado e difícil de ser influenciado por ideias tolas, venda a ideia de que para conseguir algo consigo terão de esforçar-se muito, os vírus odeiam fazer esforços, logo deixarão de o ver como alvo. A conversa, ou seja, o monólogo seguiu-se por muito mais tempo e, eu preferi me calar e dar ouvidos ao velho que parecia trazer a garganta fervilhando de palavras que desejavam fazer moradia noutras mentes.

Mau não foi, pelo contrário. O senhor ajudou-me a perceber que precisamos focar nos nossos objetivos; identificar e afastar as pessoas que ao invés de nos ajudarem a progredir, nos colocam a remar contra a maré para juntos nos afogarmos.

CARTAZ

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2023-02-08T08:00:00.0000000Z

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