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A ser assim, podemos afirmar que quando está no país a parte do historiador fica adormecida?

íses são para obtenção de armas e quando os países não têm dinheiro, elas são dadas a crédito e essas armas não são para combater contra as antigas potências coloniais, mas sim, entre nós mesmos. Isso é uma forma de tornar protraída a influência das nações forasteiras nos nossos domínios. Apenas um exemplo.

Posso citar outro que, me parece também actual. É uma espécie de imposição de um software criando conteúdos culturais desfasados com a nossa realidade histórica e corrente do nosso destino. Esses conteúdos culturais são-nos passado de forma subtil para que eles possam ser aceites e não denunciados ou renunciados. Isto é todo um exercício de garantir a influência cultural das nações forasteiras sobre as nossas. Talvez existam entre nós pessoas que se sintam mais recompensadas, dando a mão a estas intervenções do que dar-se ao esforço de com massada, renunciando ao conforto gastronómico para consagrar os magros recursos que, eventualmente, tenha para procurar o constituir do património, o acervo epistemológico que condiga com a nossa realidade, a nossa identidade como africanos, sem naturalmente perdermos de vistas que somos parte da humanidade e também adoptamos valores, mas que nos enriqueçam.

Falemos agora da obra O TRATADO DA HISTÓRIA ANGOLANA. Número de páginas, conteúdo distribuído entre os três volumes, etc…

A obra é única. Esta em três volumes, por enquanto, mas vai evoluir com elevada probabilidade para mais dois volumes que já estão num estádio de elaboração respeitável. Não gosto de vender expectativas mas estou a trabalhar. Aposto mais em resultados, o que temos é um conjunto de duas mil e duzentas páginas e o título é ANGOLA DESDE ANTES DA SUA CRIAÇÃO PELOS PORTUGUESES ATÉ AO EXODO DESTES POR NOSSA CRIAÇÃO. Este subtítulo traduz a usura que subjazeu à criação de Angola por uma potência forasteira que é Portugal.

Angola foi criada de jure em Portugal e depois materializada de facto aqui a partir de Luanda pelas entidades que já citei anteriormente. Isso, naturalmente, suscitou a que os nossos antepassados, durante séculos opusessem uma resistência irrevogável para terminar com esta aventura de ocupação e transposição de uma realidade de uma outra nação dentro dos nossos territórios e essa resistência teve êxitos com a conquista da independência e isto foi feito por todos os povos. Não houve uma única família que não tenha participado nesta jornada. A obra está estruturada em três tomos, dos quais o primeiro engloba o período anterior à chegada dos europeus nos nossos domínios, desde as épocas glaciares, quando a África ainda está coberta de gelo, até à hominização, quer dizer, o povoamento humano com a sua diferenciação progressiva aqui no nosso continente, até a formação das civilizações, dentre as quais, a civilização Bantu e dentro destas, a constituição das entidades politicas sob a forma de reinos e impérios.

No que nos diz respeito é o Império Reino do Kongo. A seguir foi a segmentação deste império e deste reino em outros reinos conformo nós dissemos, quer por segmentação do Reino do Kongo ou mesmo por constituição ad início de povoamento.

É exemplo desta última situação, os Khoisan. Eles não são de descendência Bantu mas, permitome dizer algo especulativo que, é passível de ser investigado cientificamente e seria interessante fazer isso, pelo que já estive a conversas com um cientista chinês que está integrado no Projecto da UNESCO sobre a História de África em que os nossos compatriotas Khoisan, por terem um faces com algumas coincidências fisionómicas com as populações asiáticas e avaliar se aquele episódio de que lhe falei anteriormente, da passagem dos chineses, não terá tido alguma relação com esta população. Isso é possível de ser estudado numa disciplina chamada Genética das Populações, que utiliza os métodos genéticos da Biologia Molecular para comparar as duas populações. Esta é uma linha de investigação que seria interessante. Portanto o primeiro Volume é desde o período anterior a chegada dos europeus até ao século XVIII, o segundo volume é o século XIX mais uma parte do século XX e o terceiro volume é exclusivamente os acontecimentos que ocorreram em Angola no século XX uma vez que agora nos encontramos no século XXI. Este conteúdo não está suficientemente conhecido, uma vez que, como disse antes, começamos a estudar a História de Angola desde a fundação da colónia.

Que tal este conteúdo ser adoptado para os nossos ciclos de estudos em História de Angola nos mais diferentes níveis?

O que diz é absolutamente acertado e vai-me permitir que, eu diga sem incorrer em alguma inconfidência, que tive o privilégio de ser recebido por uma das autoridades mais altas do país (permita-me a ocultar o nome, porque seria a mesma autoridade e dizer isso publicamente). Portanto, esta autoridade que, se dedicou a estudar este humilde trabalho, disse que, primeiro pelo seu valor, não tinha preço e em segundo lugar o seu conteúdo seria recomendável que fosse disponibilizado da forma mais massiva possível à população do nosso país, em particular a juventude, por via da conversão do seu conteúdo para áudio-book, porque a juventude nem sempre tem paciência de ler e gosta mais de ouvir com recurso aos auriculares. Dizia esta entidade que seria desejável que se massificasse de forma tão ampla quanto possível a disponibilização deste conteúdo pelas vias mais cómodas às instituições do ensino, as de gestão de fundos arquivísticos e a determinadas categorias sociais da nossa população e em particular os jovens, por esta razão, eu penso que, algum dia no futuro, não sei se será ainda na minha vida ou talvez depois dela, se lembrem de fazer isso.

O professor continua a exercer medicina?

Sim. Ainda não estou reformado.

E está a partilhar as suas experiências em alguma academia?

Sou Professor Catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto e formalmente sou Especialista do Hospital Américo Boavida que está em fase de remodelação nas suas estruturas físicas de forma que algumas partes do hospital estão a funcionar, por enquanto, noutras instituições sanitárias da cidade de Luanda. (risos) …Eu não sou bígamo, do ponto de vista profissional, de uma forma activa. Mas, não posso dizer que esteja adormecido, porque continuo, com muito prazer, a corresponder as solicitações para proferir conferências e a última das quais, creio que foi por altura do centenário do Presidente Agostinho Neto, sob solicitação da Comissão Interministerial de Celebração do Centenário do Fundador da Nação.

Tenho outros convites, claro não vou citar, mas tenho convites para realizar prelecções de âmbito da história do nosso país em instituições académicas relevantes em Angola e no estrangeiro. Uma pessoa quando está comprometida com a ciência não pode adormecer enquanto tiver saúde. É a forma que eu escolhi, desde a minha adolescência/juventude de prestar o meu

A obra é única. Esta em três volumes, por enquanto mas, vai evoluir com elevada probabilidade para mais dois volumes que já estão no estádio de elaboração respeitável

contributo, na sociedade e de forma humilde dignificar o povo e o país que me nasceu.

Embora sem condão de procurar sublinhar aqui algum pretensionismo, por enquanto, porque com certeza hão-de surgir outras criações e algumas até que eventualmente suplantarão esta de nossa autoria mas, dizia, eu sou o primeiro cidadão de exclusiva e originária nacionalidade, que escreve a história do nosso país.

GRANDE ENTREVISTA

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2022-12-02T08:00:00.0000000Z

2022-12-02T08:00:00.0000000Z

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