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Acabei de saber agora, algo que não sabia...

res rumo aàconquista da liberdade?

Acho que é injusto referirmos que o nosso país não mereceu a independência que proclamou. Acho que é muito redutor. E acho que é uma cegueira de visão. Nós somos sim merecedores da independência que proclamamos no nosso país. Porque a época anterior a independência foi de completa negação da nossa existência, não em termos físicos, mas como seres com iguais direitos em todas as dimensões como os seres humanos que nos colonizavam. Portanto, não podemos comparar o período colonial com o actual.

A outra parte da sua pergunta devo responder, dizendo que as aspirações pela independência não tinha elementos concretos e absolutos, e, provavelmente, na altura talvez nós não tivéssemos a formação que nos permitisse aceder a abstração das dificuldades a que tínhamos que fazer, face ao quadro da construção do nosso país. Portanto, apesar de muitos revezes que vimos tendo depois da proclamação da Independência é indubitável que a tivéssemos alcançado. Isso é indiscutível, apesar, como já disse, dos muitos revezes e que provavelmente eram incontornáveis, porque durante o período colonial não tivemos a experiência de criar uma coesão nacional, porque os portugueses não permitiam que houvesse um espirito de nacionalidade angolana. Eles mesmo diziam que não existiam angolanos. Existiam naturais de Angola. A nacionalidade a que nós estávamos submetidos, embora sem os mesmos direitos políticos, era a nacionalidade portuguesa e isso era dito explicitamente. Quer dizer, eles apregoavam, não a nacionalidade mas a naturalidade, assim como havia os naturais do Porto, do Minho, os naturais do Algarve, eles também entendiam os naturais de Angola. Negavam-nos a nossa própria identidade que é um paradoxo porque os próprios portugueses, declararam independência perante a Espanha, um povo com o qual partilhavam muito mais da genética e da cultura do que nós com eles. Portanto, ali está o desfasamento histórico que as decrépitas autoridades coloniais pretendiam fazer valer aqui nos nossos domínios territoriais.

Depois de feita a sua graduação na Universidade Agostinho Neto e dar iniciado ao serviço público como médico e académico, chega a altura da peregrinação pelo mundo afora. Pareceu-me, na pesquisa que fiz, que Berlim e Lisboa terão sido algumas das paragens demoradas. Por que?

Não necessariamente Lisboa. A capital portuguesa foi sempre apenas um ponto de trânsito para outros locais onde os deveres profissionais, quer na academia, quer na ciência, quer no exercício da profissão médica me levaram. Mas em Berlim, na Alemanha, sim, porque eu trabalhei durante seis anos na cidade de Berlim mais concretamente na Universidade de Humboldt, Faculdade de Medicina, precisamente no hospital desta faculdade que é o celebérrimo hospital que é o maior da Europa, o Charité

— Universitätsmedizin Berlin. Em que condição ingressa nesta prestigiada instituição europeia: como docente ou discente?

Eu licenciei-me aqui em medicina, na Universidade Agostinho Neto, como já disse no início. Estive na cidade de Berlim no âmbito do Programa de Especialidade em Patologia e também promover a realização da investigação científica, no termo da qual escreveria a dissertação de doutoramento para a obtenção do Titulo Académico de Doutor em Medicina. A especialização faz-se trabalhando como médico numa categoria que se chama “Interno de Especialidade” e como doutorando tinha que realizar a investigação científica que permite descobrir e realizar o programa para depois conquistar o nível académico de Doutor em Medicina.

Simplesmente as autoridades alemãs, depois do meu doutoramento em medicina, integraram-me no quadro docente da Faculdade de Medicina da Universidade de Berlim. É assim que de 1992 a 1994 leccionei as Cadeiras Curriculares de Patologia Geral e Patologia Especial. ção e devoção exigentes da medicina impedem que os seus profissionais possam pleitear outras áreas do conhecimento.

Isto é um senso comum, mas não é necessariamente sempre assim, razão pela qual a humanidade sempre teve profissionais das ciências médicas que também se notabilizaram noutras áreas, a começar pela nossa própria história em que o nosso primeiro Presidente foi um poeta notável, o médico Américo Boavida, patrono do hospital onde trabalho, deixou escritos sobre o conhecimento que ele tinha, na altura, da interação entre as autoridades coloniais e o tecido essencialmente nativo de Angola que é a obra “ANGOLA – CINCO SECULOS DE DOMINAÇÃO PORTUGUESA”, creio que é assim que se intitula o livro. Óbvio, você é de uma geração mais nova que a minha. Mas eu sou obrigado a saber. Sou obrigado a saber de todas as fontes literárias que escreveram sobre a Historia de Angola. No quadro da investigação metanalítica tinha que consultar o maior número possível, quase até à exaustão, de todos quantos escreveram sobre o nosso território, sobre os nossos antepassados.

Destrocando professor: o quê metanálise?

É o método investigativo em ciência que consiste em consultar documentos escritos e comparar os respectivos conteúdos. Portanto, a investigação metanalítica é a investigação baseada em documentos escritos para depois comparar

Não é ignorância nenhuma, é até uma pergunta legítima, e permitame corrigir que a chegada de Diogo Cão à foz do rio Kongo não marcou o início da existência de Angola. Isto é um revisionismo da historiografia de Angola lusocêntrica impregnada pelas autoridades coloniais que, no desejo de marcar a anterioridade dos portugueses em Angola, cerca de um século, quase que apagaram, o papel de Paulo Dias de Novaes que foi o fundador de Angola em 1575 e atribuíram este papel errada, mas intencionalmente ao Diogo Cão.

Nem sequer o documento que ‘cria’ Angola que foi assinado pelo rei Dom Sebastião em 1571 faz menção do nome de Diogo Cão. Portanto, Diogo Cão foi irrelevante para a fundação de Angola.

O nome que está mencionado no documento monárquico que cria a colónia de Angola é o nome de Bartolomeu Dias, atribuído a uma rua na cidade de Luanda. Está lá a placa toponímica é foi erigida em homenagem ao feito de Bartolomeu Dias, o primeiro português a chegar ao Cabo de Boa Esperança (por isso, existe a cidade do Cabo hoje) foi o primeiro europeu. É em homenagem a ele que a colónia de Angola foi fundada pelo rei português Dom Sebastião para ser entregue ao neto do Bartolomeu Dias que é o Paulo Dias de Novaes, tendo este vindo pra cá em 1575 para com

A influência da revolução no Congo aconteceu como que uma espécie de abrir as vistas aos jovens cá e as nossas conversas passaram a ser “temos de ir para o Congo. Nós aqui também temos de nos libertar”

GRANDE ENTREVISTA

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2022-12-02T08:00:00.0000000Z

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