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Tudo bons rapazes

Dani Costa Coordenador

Océlebre Robert de Niro e Ray Liota deram corpo, na década de 90, a um filme de Martin Scorsese que retrata a vida de dois gângsters espertalhões e amigos ligados à máfia que faziam das suas como se fossem mesmo bons rapazes.

Com o tempo e o desenrolar dos acontecimentos se foi percebendo quem era quem, assim como as tramas em que estavam envolvidos. Mas, para muitos, os dois principais protagonistas não passavam de figuras boazinhas apesar do percurso negro construídos a custa de sangue dos seus principais adversários.

Quem acompanha os julgamentos das grandes famílias mafiosas já se deve ter apercebido da contradição que é ver pessoas cujas vidas sempre estiveram associadas a actividades supostamente criminosas jurarem, até mesmo para Deus, que sempre foram bons rapazes. Incapazes até de pisarem uma barata. Sabendo-se que em Angola, como um dia referiu o antigo Presidente José Eduardo dos Santos, o segundo mal depois da guerra era a corrupção, infelizmente há quem hoje esteja a querer contrariar esta narrativa pintando inocência até mesmo àqueles que se presume que tenham delapidado o erário a favor dos seus interesses particulares.

À medida que o tempo avança, muito por força das grandes agências de comunicação e relações públicas, se procura inverter a imagem de determinadas personalidades que, à partida, sempre se soube que construíram as suas fortunas com base em práticas nepotistas, tráfico de influência e acesso privilegiado a informações de quem então detinha o poder. Numa fase em que Angola dava os primeiros passos numa economia que se supunha ser de mercado, sectores importantes acabaram retalhados por um séquito, os mesmos que posteriormente estenderam os seus tentáculos a outros. Abocanharam-se dos grandes contratos públicos, colocaram parentes próximos a dirigirem outros para dar a imagem de uma pretensa concorrência, mas no fundo coarctaram a possibilidade de outros interessados, incluindo marcas de renome internacional, se pudessem estabelecer por temerem concorrência e a aposta em práticas mais transparentes.

Muito por conta do desfecho de muitos processos em curso, sobretudo no âmbito do combate à corrupção, alimentados pelas desconfianças apresentadas por diversos círculos da sociedade de que existam filhos e enteados nesta luta, faz com que hoje alguns sejam vistos como heróis e perseguidos.

Angola tem sido uma terra prenhe em fabricar mártires desnecessários. Muitas das vezes por falta de informação e transmissão delas aos interessados para que aqueles que sempre andaram a delapidar erário, colocando milhares no sofrimento também, não se arroguem nem se apresentem como se fossem os que sempre estiveram do lado bom nos períodos mais difíceis da história deste país.

Nem todos foram bons rapazes nos tempos idos. Os factos são vários e não há amnésia alguma que fará com que muitos cidadãos se esqueçam das perseguições, afastamento em concursos públicos ou até mesmo de outros negócios porque os então Donos Disto Tudo não permitiam sequer sombra. E não se pode ter receios em assumir isso e responsabilizar quem quer que seja, apesar de tudo de bom que tenha sido feito.

HOJE:

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2022-12-02T08:00:00.0000000Z

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