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Se pudesse votar no Brasil

Dani Costa Coordenador

Ontem, o Brasil foi a voto. Um dia inesquecível para os brasileiros, por se tratar de uma eleição singular, onde apesar dos vários anos de democracia, nunca a incógnita residiu tanto no seio dos mais de 100 milhões de eleitores. Colonizados por um mesmo país, Portugal, Angola e o Brasil têm uma história quase comum. Porém, para os milhares de angolanos, sobressairia sempre o facto de a República Federativa do Brasil ter sido o primeiro a reconhecer a independência de Angola. Independentemente das circunstâncias, o Brasil nunca virou as costas a Angola. Houve, claro, nos últimos cinco anos, uma espécie de recuo, se compararmos aquilo que é a política externa estabelecida pelo Presidente Jair Bolsonaro e os tempos em que Luiz Inácio Lula da Silva ainda residia no Palácio da Alvorada.

Se pudesse, claro que votaria em Lula. Compreendo que o mensalão tenha abalado significativamente a sua imagem e as hostes do Partido dos Trabalhadores, que ele há muito ajudou a liderar. O PT deu muitos tiros ao pé e ainda assim pode persistir. Qualquer líder acusado ou envolvido em casos de corrupção não só enfraquece a sua própria imagem, como também acaba por minar os passos subsequentes, sobretudo aí onde pensa construir uma relação assente na honestidade e sinceridade. Quando foram realizados os últimos debates, não houve dúvidas de que, embora a política interna importe mais, o certo é que a imagem do Brasil no mundo anda muito fragilizada. O trumpismo à moda brasileira, com Jair à cabeça, enxugou muito do que era este enorme país no mundo e a sua influência.

Em relação a Angola, país em que vivo, apesar de os nossos marimbondos terem contribuído negativamente para esmorecer as boas relações, com habituais gamanços e compadrios, as coisas refriaram muito. Já houve mais presença a nível de negócios, política e até mesmo nas relações militares.

As fases de Dilma Roussef, Michel Temer e agora Bolsonaro retiraram os países tradicionais aliados da agenda. Nem se conseguiu sequer manter na agenda o papel deste enorme país, por sinal o mais desenvolvido da Comunidade de Países de Língua Oficial Portuguesa. Nestas últimas 24 horas, há ainda por se apurar como estarão, se calhar, as relações entre Angola e o Brasil.

Eu hoje votaria em Lula, não sei qual será a equipa que nos levará a escolher o resultado nos próximos dias.

Amanhã, todos iremos saber o que nos reserva estes dias. Como angolano, haverá com certeza mais um passo a ser dado. Cedo ou tarde, ainda assim, há como avançar neste imbróglio cujo país cada um de nós se quer ver envolvido. Quanto ao Brasil, aguardamos que o vencedor seja aquele que a história espera que seja.

Quem se recorda dos tempos em que Angola subiu gradualmente no tempo, mesmo com as impossibilidades que a vida nos ia dando, ainda assim, estamos longe de averiguar, com certeza, tudo o que nos é dado. E o Brasil dará, se puder, aos angolanos, mais uma lição de vida. Seja como for, ainda assim, há um país para continuar. E Angola estará sempre presente.

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2022-10-03T07:00:00.0000000Z

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