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Feitos e consagração

Como diz o velho adágio, “onde há música geralmente há dança”, a pedido destes, o debate foi extensivo à dança e às artes cénicas. Partindo desse pressuposto, ao pronunciar-se sobre a dança, pese embora tenha uma dimensão mais lúdica, o orador salientou, que esta perseguia os mesmos objectivos que a música, quanto mais não seja para congregar as massas nos bailes. O docente argumentou que as músicas precisavam atingir o colectivo e os bailes eram o seu melhor espaço de divulgação. Neste caso particular, socorrendo-se a Pedro Tomás “Petchu”, bailarino na diáspora e ao músico Lito Graça, realçou que os bailes em Angola eram organizados entre amigos que se definiam como “as turmas”.

Nesses bailes, acrescentou, dançavam ao som dos instrumentos como a dikanza, o ngoma, o apito, a gaieta (harmónica) e o acordéon, que eram os mais usados na época nos ritmos como o Semba, a Rebita, a Kazukuta, Kabetula, os rumbas e muitos outros tocados nos anos 50/70.

Teatro

Para os admiradores e fazedores de teatro, uma expressão literária mais próxima da sociedade onde surgiu, o debate foi ainda mais a fundo, levando-os a uma breve incursão no tempo pela forma apresentada.

Marcado por várias curiosidades, intervenções e contribuições da plateia, Simbad focalizou-se nas lutas de resistência contra a opressão colonial, em associação aos projectos utópicos de organização social e política do país que fazem parte da produção teatral de Angola. O docente sublinhou que o teatro convencional em Angola nasce em reacção ao teatro português, recordando que as primeiras peças encenadas tinham um conteúdo religioso e as figuras representadas tinham de ser brancas. Justiçou que para contrapor essa situação, surgiu, no seio dos angolanos funcionários públicos, a necessidade de se criar um grupo teatral com o objectivo de despertar as consciências dos menos esclarecidos, sobre a dominação colonial e a aculturação que o regime colonial imprimia. Em consequência disso, surgiram alguns colectivos, como o Experimental de Teatro – Gexto, nos anos 50, à imagem do projecto brasileiro Teatro Experimental do Negro, tendo as peças mais famosas “O Panfleto”, “Auto de Nata” e o “Julgamento Popular”. Esta última, denunciando práticas de julgamentos coloniais em que o réu não era ouvido, mas acabava condenado.

Neste caso particular, a peça “O Panfleto” trazia igualmente uma mensagem de intervenção social de apelo às populações sobre a necessidade do uso e distribuição de panfletos em que deviam constar os abusos, maus-tratos, violência e exploração colonial.

Concentrando um número considerável de compositores, músicos, coreógrafos, actores, poetas, autores, declamadores, dançarinos, vocalistas tradicionais, entres outros, com apresentações em Angola e no exterior, Hélder Simbad recordou que o Grupo Cultural Músico-Teatral Ngongo, em 1961, consagrou-se o Melhor de África em 1965, com temas ligados às vivências dos angolanos, adaptando algumas obras, como “Praga-Uanga”, “Alembamento”, “Namoro no Sambizanga” e tantas outras.

A peça “Alembamento” (A Carta) é um dos exemplos. Foi adaptada pelo grupo de alguns dos capítulos do livro de Óscar Ribas, intitulado “Uanga”, um romance folclórico centrado no amor de Catarina e Joaquim, colocado em perigo primeiro por uma ex-namorada de Joaquim, e depois por um ambaquista chamado António Sebastião que, não sabendo ler uma carta, não diz a verdade, e faz entender que Joaquim morrera.

CARTAZ

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2022-08-17T07:00:00.0000000Z

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