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INOVAÇÃO

Texto: Filipe C. de Sá

O surgimento de cidades inteligentes continua na agenda internacional, cujos desafios são sustentabilidade e soluções urbanas futuras. Em África, já se registam sinais avançados neste sentido, com o Ruanda na pole position.

Frequentemente, a África é associada à pobreza, às desigualdades sociais, à corrupção, às fortunas alegadamente obtidas de forma obscura, sem esquecer outros males que terão sido libertados para o mundo, quando alguém terá aberto a célebre e mítica caixa de Pandora. No entanto, paralelamente a esta visão quase apocalíptica do continente, há a constatação de que em África se situam alguns dos mercados de mais rápido crescimento, entre os quais se destacam, por exemplo, o Rwanda e o Burundi. Igualmente, é certo que no continente existem vários pólos de riqueza bem estabelecidos, como é o caso da África do Sul, do Egipto e Marrocos, que incluem um grande número de indíviduos de renda elevada ou IRE (em Inglês HNWIS – High-net-worth-individuals).

Tendo em conta que, como escreve num artigo que dedicou a este material o jornalista Oluwatosin Ogunjuyigbe, da Venture Africa, “pessoas ricas há em todo o lado, mesmo que haja mais em alguns lugares do que em outros”, sendo “esta a razão pela qual o número de pessoas ricas num país constitui um indicador notável do desenvolvimento económico”, olhar para esta questão de forma estruturada é tarefa de inegável interesse concretizada no relatório sobre a Riqueza em África 2022 pela empresa sul-africana Henley & Partners, especializada em residência e cidadania via investimento, em parceria com a New Worlds Health (Ver Caixa), uma empresa de investigação sobre a riqueza global, com sede na África do Sul.

O relatório fornece dados referentes à grandeza financeira privada nos países africanos assinalando que apenas três países detêm a maior parte do total das fortunas do continente.

A África do Sul, o Egipto e a Nigéria, com 615 mil milhões, 307 mil milhões e 228 mil milhões de dólares em fortunas privadas, respectivamente, representam 1,18 milhões de milhões de dólares, 56% do total das fortunas de África avaliadas em 2,1 milhões de milhões. É importante notar que esta rique

za não corrersponde ao Produto Interno Bruto (PIB), que é uma medida monetária do valor do mercado de todos os bens e serviços produzidos num país durante um período específico.

O relatório fornece uma visão geral sobre o sector financeiro em África, incluindo tendências entre os indíviduos de rendimento elevado (IRE), o mercado de artigos de luxo e o sector de gestão financeira no continente. Saber onde vivem os indivíduos mais ricos, compreender os seus hábitos e prestar atenção às suas preferências é de extrema importância para os gestores financeiros e os serviços de bens de luxo de África e não só.

A mobilidade dos mais ricos

De acordo com o relatório, os chamados indíviduos de rendimento elevado são extremamamente móveis e os seus movimentos fornecem informações valiosas sobre as tendências económicas futuras em cada país. Por exemplo, países como as Ilhas Maurícias, que atrai IRE’S através da migração, beneficiam de vantagens económicas significativos sobre o resto. A década de 2020 anuncia uma era de instabilidade extrema em todo o globo, e dois factores, segundo o estudo, impulsionam o interesse na residência e cidadania através do investimento, referimonos à Covid e ás mudanças climáticas.

Contudo, é importante sublinhar que, em 2022, um terceiro factor terá ocupado o lugar central no cenário global, a invasão da Ucrânia pela Rússia provocou ondas de choque em todo o mundo, criando ainda mais elevados níveis de incerteza e volatilidade para indivíduos, famílias, negócios, investidores e governantes. Dominic Volek, Chefe do Grupo de Clientes Privados da Henley & Partners observa que “embora o coronavírus esteja em retirada, continua a ser um adversário imprevísviel. Por outro lado, acrescenta, o Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas “é muito claro nas suas advertências sobre a degradação cli

mática, confirmando recentemente que o mundo aquecerá cerca 3,2º Centígrados neste século”. Uma pesquisa da empresa efectuada este ano revelou que muitos países da África subsaariana estão duplamente em desvantagem, situando-se entre os mais vulneráveis às mudanças climáticas, assim como tendo pouca capacidade de mobilidade global, porquanto os seus passaportes situam-se a um nível muito baixo do Henley Passport Index (Ver caixa).

Além disso, os conflitos regionais continuam presentes e apenas no ano passado vários foram registados no continente. É inegável o impacto que estes eventos e circunstâncias têm na vida das pessoas nas mais variadas formas, incluindo a sua mobilidade e actividade económica. Em África, segundo a pesquisa, este impacto resultou no declínio da riqueza total no continente durante a última década. Mas o relatório considera que há razões para optimismo no futuro, com a empresa New World Wealth a prever que o total da riqueza privada em África aumentará 38% nos próximos 10 anos, para atingir os 3 milhões de biliões de dólares (no sis

O vigésimo membro é a União Europeia, e 60% dos estados membros da UE oferecem opções de investimento via migração

tema Americano, 3 triliões de dólares). O estudo aconselha que, nesta época que se apelida de “Idade da Incerteza”, tanto os governos como os investidores devem preocupar-se com a criação de resiliência. É imperativa a preparação para o próximo choque, considerando que “uma via provada de fazê-lo é através do investimentento pela migração, em que os investidores podem adquirir e garantir uma residência alternativa ou segunda cidadania numa jurisdição diferente, em troca do investimento no país de acolhimento.” Dominic Volek, da Henley & Partners, adianta que a sua empresa prestou assistência a um número sem precedentes de clientes de 79 nacionalidades diferentes que iam desde a Argélia à África do Sul e da Libéria à Etiópia.

Uma indústria em crescimento

A indústria do investimento via migração tem vindo a crescer regularmente há mais de 25 anos, tendência que, segundo a Henley & Partners, se manteve em 2022. A empresa indica que se registou uma subida significativa no interesse por programas de residência e cidadania via investimento globalmente, com um aumento de 55% nos pedidos de informação no primeiro trimestre de 2022, comparado com o mesmo período de 2021, o que lhe permite concluir que a África não é excepção e continua a sua trajectória como um mercado em crescimento para o investimento via migração. A empresa registou um aumento geral de 18% de pedidos de informação de africanos à procura de residência alternativa e/ou cidadania, no ano passado e no fim do primeiro trimestre de 2022, já tinha recebido mais de 29% do total dos pedidos de informação de 2021. Prevê-se, assim, que essa tendência continue ao longo do ano, à medida que investidores abastados continuem a concentrar-se

na diversificação dos seus domicílios, assim como dos seus investimentos, para garantir um acesso mais global e mais opções como protecção contra um mercado incontrolável e volatilidade política.

Numa perspectiva global, a África do Sul, a Nigéria e o Egipto estão entre as primeiras 15 nacionalidades em termos de pedidos de informação que a Henley & Partners recebeu no ano passado. A África do Sul estava em 5º lugar globalmente, com um crescimento de 38%; a Nigéria em 7º, com um crescimento de 15% e o Egipto em 14º, com um crescimento de 24%. Actualmente, os programas de residência e cidadania via investimento são largamente aceites como ferramentas de gestão financeira e patrimonial. O leque de programas está a aumentar progressivamente à medida que os países dedicam mais atenção às potencialidades do seu capital e atracção de talentos. Dezanove das nações do G20 oferecem algum tipo de mecanismo para encorajar a entrada de investimento em troca de direitos de residência. O vigésimo membro é a União Europeia, e 60% dos estados membros da UE oferecem opções de investimento via migração.

No que se refere concretamente à África, e citando os dados do relatório (Henley &Partners e New World Wealth), o interesse pela migração via investimento em mercados, para além da África Austral, tem aumentado gradualmente nos últimos anos. A Nigéria foi o segundo maior mercado (depois da África do Sul) em termos de pedidos de informação em 2021, com um crescimento de 15%. Três países do norte de África – Egipto, Marrocos e Argélia – surgem em terceiro, quarto e quinto, em termos do número de pedidos de informação no ano passado, com os crescimentos de 25%,19% e 33%, respectivamente. Actualmente, os programas de residência e cidadania via investimento são largamente aceites como ferramentas de gestão financeira e patrimonial.

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