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O patriota

António Estote Economista “José Eduardo dos Santos queria ser reconhecido pelos seus concidadãos como aquele que ama a mãe de todos, a pátria”

É um grande desafio escrever sobre o Expresidente José Eduardo dos Santos, porque não consigo escrever sobre as pessoas, mas sobre políticas, Planos, Projectos, acções, quer porque o Ex-presidente é uma personalidade que em determinadas dimensões não reúne consenso, tal como nenhum de nós. Todavia, o mesmo merece ser lembrado como um bom patriota, foi assim que o mesmo de forma lacónica queria ser lembrado e é assim que será lembrado

O PATRIOTA.

O Mestre Dorivaldo da Costa, nos seus textos e post, caracteriza muito bem as várias dimensões do ex-presidente, por isso transcrevo, em alguns casos, ipis verbis parte dos seus textos.

Um líder de poucas palavras atento aos sinais dos tempos. Aliás, foi assim que, com tenacidade e determinação, pouco tempo depois de assumir a Presidência da República, conseguiu ultrapassar o momento de tensão que o país vivia, fruto dos acontecimentos do 27 de Maio, bem como foi capaz de evitar a ruptura do MPLA através da reaproximação ou da reconciliação dos camaradas desavindos.

Em 1992, seguiu em frente e implementou as suas reformas que culminaram com a aprovação da Constituição de 1992 e, consequentemente, com a institucionalização em Angola do Estado Democrático e de Direito, multipartidário e voltado para uma economia de mercado, apesar de liderar um partido político comunista e um Estado monopartidário assente numa economia centralizada e planificada.

Em 1997, fruto da sua veia pacificadora, criou o Governo de Reconciliação Nacional, no intuito de alcançar a paz e a reconciliação nacional e, neste âmbito, integrou no seu Executivo alguns membros da UNITA para ocuparem determinadas pastas ministeriais, mas infelizmente o conflito armado continuou. Esperou até 2002, e com a morte do líder da UNITA não perdeu tempo e manifestou a intenção de acabar definitivamente com o conflito armado que assolava o país há mais de duas décadas. Promoveu o diálogo entre os irmãos desavindos, acolheu-os, bem como integrou todos ex – militares oficiais da UNITA nas forças armadas angolanas.no domínio da melhoria das condições de vida dos angolanos, implementou inúmeras reformas, dentre as quais, o iniciou o processo de reconstrução nacional, com a reabilitação de infraestruturas de base, a destacar energia (Laúca, Kapanda, caculo cabaça), Água, vias rodoviárias e ferroviárias, habitação através das centralidades espalhadas em todo o País, com o processo de renda resolúvel como um instrumento da política de preços e rendimentos, etc, etc… Portanto, apesar do reconhecimento internacional, José Eduardo dos Santos queria ser reconhecido pelos seus concidadãos como aquele que ama mãe de todos, a pátria.

Amorte de José Eduardo dos Santos (JES) marca o fim de uma era. Uma era em que o Estado tinha um papel preponderante no processo de transformação da economia de Angola. Esta visão do Estado estava ligada aos princípios defendidos por JES e apresentados num relatório do comité central do MPLA para o IV congresso de 1998. JES defendia (1) que o sector bancário apoiasse o sector privado emergente, (2) que houvesse uma aliança estratégica entre o governo e a classe capitalista angolana, (3) uma necessidade de parceria entre o capital estrangeiro e doméstico, (4) a necessidade de se assegurar que o processo de liberalização e privatização não permitissem que a economia estivesse nas mãos de empresas estrangeiras.

Alcançada a paz, criou-se, através da lei do fomento do empresariado privado angolano, um mecanismo legal de apoio a uma classe capitalista angolana, um posicionamento que não é exclusivo de Angola. Gerschenkron na sua obra Economic Backwardness in Historical Perspective analisa o caso da

Alemanha e dos EUA e indica que quanto mais tarde um país começar o processo de transformação da sua economia, maior será a necessidade de o estado intervir. O desenvolvimento recente de países como o Japão, a Coreia do Sul, Taiwan e China mostra a mesma coisa.

Depois de 2002, a banca comercial cresceu para 27 bancos em 2016, todavia a situação creditícia, segundo o BNA, ficou concentrada no sector do comércio, construção e imobiliário. Não houve uma aposta séria na produção de alimentos e na indústria transformadora.

Se por um lado, a visão económica de JES permitiu manter a economia (particularmente a banca) na mão de angolanos, por outro lado pecou pela ausência de disciplina e aposta séria no sector produtivo. JES mostrou incapacidade de fazer com que os principais beneficiários dos financiamentos do estado apostassem na produção local de bens transacionáveis, i.e., capazes de diversificar as exportações de Angola. Um erro que persiste até hoje, conforme mostra o nosso livro Milagre ou Miragem? Um Novo Paradigma para Angola.

PERCURSO

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2022-08-01T07:00:00.0000000Z

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