Media Quiosque

“QUALQUER DISCURSO POLÍTICO DE PROPAGANDA TEM BOAS INTENÇÕES”

Como pensa que os fazedores de políticas públicas devem olhar para a demografia?

A demografia começa no feto da pessoa. Quando um feto chega aos nove meses, podemos dizer que é uma vitória, porque venceu todas as etapas da evolução. É demografia que deve identificar o número de alunos existentes para determinar-se a quantidade de carteiras necessárias. É a demografia que identifica a quantidade de força de trabalho activa e os meios de trabalho necessários para a produção de bens e serviços.

Como avalia a política demográfica em Angola?

A política demográfica angolana tem linhas traçadas por escrito: política do género, da assistência, da saúde… realmente fez-se muita coisa na saúde. É preciso reconhecer. Além dos postos de saúde do PIIM, temos hospitais de referência, como o Hospital Materno-infantil Azancot de Menezes, o Complexo Hospitalar de Doenças Cardiopulmonares Cardeal Dom Alexandre do Nascimento e outros. Em termos desses equipamentos, realmente há crescimento. Mas o atendimento em termos humanos é satisfatório? O Hospital Geral de Luanda tem equipamentos modernos, mas o que é que explica vermos pessoas à volta do hospital e dormir? Alguma coisa não estará a funcionar bem, entre a qualidade do equipamento e a forma como as pessoas são atendidas. Não faz sentido num hospital moderno as pessoas dormirem fora.

Como olha para os programas de governação dos partidos políticos concorrentes?

Não tive acesso aos programas, mas o que vejo na televisão chego à conclusão de que qualquer discurso político de propaganda tem boas intenções. Ninguém vai dizer, quando chegar ao poder, que vai encher os bolsos e comprar carro. Não.

Enquanto cientista social, o que mais o inquieta e o que mais o satisfaz em Angola?

Inquieta-me a maneira como aquilo que todos nós produzimos é redistribuído. Porque o país tem riqueza. Vi recentemente a informação sobre a qualidade do diamante descoberto no Lulo. Isso fez-me pensar que o país tem recursos que trazem receitas, para além do petróleo, embora seja sector primário extratctivo. Isso satisfaz-me. Agora, o que me inquieta é a forma de redistribuição. Como disse, temos novos hospitais e escolas, mas a qualidade de atendimento não satisfaz, porque não adianta termos um hospital de qualidade, mas quando chegamos lá temos de pernoitar ou não tem luvas, não tem paracetamol… isto inquieta. Está-se a contruir escolas, porquê ainda há crianças fora do sistema de ensino? Isso inquieta. Então, a satisfação seria ver crianças fora do sistema de ensino, as pessoas a serem bem atendidas nos hospitais. Porquê no privado, onde se paga, o entendimento é melhor, considerando que os médicos que trabalham não são melhores dos que trabalham nos hospitais públicos.

Quais julga serem as causas por detrás da má distribuição da renda nacional?

Depende da consciência das pessoas a todos os níveis, não só dos dirigentes, mas também dos mais baixos da hierarquia. Se os recursos alocados para determinado projecto forem bem empregues, todos sentirão os benefícios, mas quando há desvios, sobrefaturação, a falta de registo de certas operações, as consequências se repercutem na população.

ENTREVISTA

pt-ao

2022-08-01T07:00:00.0000000Z

2022-08-01T07:00:00.0000000Z

https://mediaquiosque.pressreader.com/article/281801402743380

Media Nova