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Consciencialização sobre transformações advindas da maternidade é mote do projecto

Texto : NEUSA FILIPE Fotos : CARLOS AUGUSTO

“Mulheres Reais”

Numa era em que tudo gira em torno de imagens “perfeitas”, sobretudo para a rede social Instagram, é quase inaceitável mulheres mães, com “corpos de mãe”. Depois destas darem à luz, várias mulheres são atacadas por não terem voltado ao dito corpo “normal” em tempo recorde. Outras recorrem a dietas radicais e a treinos frequentes para mostrar ao “mundo” que não mudaram nada apesar de terem sido mães

Agestação traz grandes mudanças no corpo da mulher, mesmo após o parto. Estrias, flacidez e quilos extras são algumas delas. As transformações físicas dessa fase deixam algumas mulheres abaladas, ao ponto de acharem que o seu corpo está feio. Entretanto, com o projecto “Mulheres Reais”, espera-se impactar a sociedade com discursos reais, de mulheres com corpos reais, e gerar discussões em torno deste assunto. A mentora do projecto em causa, Rossana Dias, contou em entrevista à revista Chiola que o projecto “Mulheres Reais” surgiu em Fevereiro deste ano, poucos meses depois de ter dado à luz a sua primeira filha.

Motivada pelos comentários que ouvia em relação à sua forma física, de que havia sofrido transformações, Rossana Dias conta que foi a partir daí que começou a

escrever o projecto “Eu Sou Real” com o objectivo de consciencializar a sociedade sobre a diferença de corpos e mostrar como a pressão pela “perfeição” pode afectar a saúde emocional das mulheres. A jovem mãe refere que hoje em dia, várias mulheres são atacadas por não terem voltado ao dito corpo “normal” em tempo recorde, outras recorrem a dietas radicais e a treinos absurdos para mostrar ao “mundo” que não mudaram nada apesar de terem sido mães.

“O facto é que, realidades diferentes não podem gerar resultados iguais. Factores genéticos, condições sociais e financeiras podem ser o fosso que separa algumas mulheres do sonho de serem iguais às mães do Instagram”, afirma, a jovem.

Questionada sobre a escolha do nome do projecto, Rossana explicou que o que muitas mulheres não sabem é que, às vezes, essa perfeição quase que inalcançável, existe apenas nas redes sociais, onde as imagens são manipuladas com filtros e photoshop. Por não serem imagens reais, alega que foi esta a razão da escolha do nome “Eu Sou Real” para a campanha de divulgação do referido projecto.

Próximos desafios

O projecto “Mulheres Reais” integra até ao momento doze pessoas, entre elas embaixadoras, psicólogas e sociólogas. A mentora conta que numa primeira fase a iniciativa havia sido destinada apenas para mulheres mães, porém, depois do lançamento da campanha, percebeu-se que o mesmo era muito mais do que a proposta inicial.

“O facto de ser mulher por si só já é um grande desafio, então, separarmo--nos em grupos de mulheres que são mães, das que não são, começou a parecer discriminatório. As mulheres já travam várias lutas diariamente, então precisamos nos unir. Se limitássemos a campanha só para mães, estaríamos a nos dividir”, sublinhou.

A campanha para a divulgação do projecto já se encontra em curso, e o próximo desafio a ser abraçado será a consolidação da rede de apoio psicológico para mulheres, que segundo a mentora, já começou a ser criada.

Conta que com a referida rede, pretende-se fazer acompanhamento de mulheres que sofrem com a depressão pós-parto, mulheres que tenham perdido filhos, que tenham sofrido aborto espontâneo, mulheres que não conseguem ser mães e até mulheres que estejam a sofrer com a pressão da sociedade por terem optado em não ter filhos.

“Numa primeira fase, o acompanhamento será feito de forma virtual até termos condições para o fazer de forma física”, avançou.

*Consequências da obsessão pela “perfeição”*

Relativamente às possíveis consequências que podem advir da obsessão pelo corpo perfeito, Rossana Dias considera que, se esta obsessão for motivada pela vontade de alcançar um padrão imposto, pode afectar negativamente a auto-estima da mulher, caso ela não consiga atingir os resultados esperados. A interlocutora entende que “comparar-se constantemente com outras mulheres ou outros corpos pode igualmente afectar negativamente o seu eu”.

“Daí trazermos a campanha ‘Eu Sou Real’. A proposta da campanha é fazer com que cada mulher olhe para si mesma com amor e possa amar o seu corpo em todas as fases. Incentivar o autocuidado. Fazer entender que só precisamos ser perfeitas para nós mesmas, porque quando entendermos verdadeiramente a essência do

amor--próprio, vamos parar de mendigar a aprovação dos outros”, salienta.

*Embaixadoras reagem*

Algumas embaixadoras do projecto partilham as razões que as levaram a aderir ao “Mulheres Reais” e falam como as suas mensagens têm servido de conforto e consolo para outras mulheres. Loide Neto alega que o projecto é muito interessante, na medida em que vem, não só despertar as mulheres que, de alguma forma se sentem pressionadas pela sociedade por não terem voltado ao corpo normal (depois da gestação) em tempo recorde, mas também consciencializar a sociedade de que não existe padrão para o corpo da mulher, mas sim diferença de corpos.

A embaixadora apela às mulheres a aceitarem e a gostarem do seu corpo com todas as transformações que ocorrem com a maternidade e justifica que a pressão pelo “corpo perfeito” pode afectar o pilar emocional das mulheres. “Eu decidi fazer parte do projecto porque me identifiquei com a denominação da campanha ‘Eu Sou Real’, pois eu me sinto uma mulher real, que gerou uma vida e tem um corpo que sofreu transformações. Eu agora tenho estrias na barriga. No princípio foi difícil olhar para a minha barriga e perceber que já não era a mesma, mas fui percebendo que foi por uma boa causa e aceitei porque eu agora sou mãe e eu sou real”, defendeu. Já Mawete Nunes, outra embaixadora do projecto, conta que quase todos os dias se depara com mulheres que se identificam com o conteúdo do projecto, que alega que vem incentivar as mulheres a aceitarem as suas realidades. “Identifiquei-me com o projecto porque eu sei a responsabilidade de uma mulher na sociedade. Por eu ser educadora e um pilar na minha família, por eu me valorizar como tal e por me identificar com o conteúdo todo do projecto. É um projecto que nos faz reflectir sobre aquilo que somos e sobre todas as transformações que decorrem quando nos tornamos mães”, fri

sou.

Por sua vez, Elisa dos Santos considera que o projecto está a ajudar muitas mulheres que já são mães a se aceitarem do jeito que elas são, e a não ficarem presas aos julgamentos de uma sociedade que tenta implantar um padrão e que se esquece das diferenças existentes. “Aceitei o desafio de aderir ao projeto, porque logo que tive contacto com o teor da campanha, de certa forma senti-me representada, e sempre quis, de uma ou outra forma, mostrar às pessoas que apesar de ser mãe, eu sou real, que não preciso de ser perfeita. Eu gerei amor, eu sou real”, justificou, Elisa dos santos, defendendo a necessidade de as mulheres se apoiarem umas às outras nessa luta contra padrões e julgamentos impostos pela sociedade.

INICIATIVA

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