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Sophia Buco

“Vejo o futuro do teatro nas mãos das mulheres”

Texto : ANTÓNIA GONÇALO Fotos : CEDIDA

Diante das várias dificuldades para a implementação dos seus projectos, a actriz e produtora Sophia Buco trabalha com meios próprios, ao ponto de se endividar para produzir vários espectáculos teatrais em que está envolvida

Questionada sobre as possíveis barreiras neste trabalho, disse serem de vária ordem, como a inexistência de uma indústria teatral e falta de salas de teatro. Enumera ainda a falta de patrocínios que possam ajudar a alavancar e revitalizar o sector, mas realça o facto de haver algumas empresas que se vão sensibilizando e apoiando, como podem, o teatro.

A ausência de sensibilidade artística para que se perceba a extrema importância desta arte secular na educação das crianças, aponta também como uma das barreiras para a desenvoltura das artes cénicas no país, por considerar necessário a sua implementação no seio destas. “É gritante a falta de patrocínios. Produzir uma obra de teatro em Angola é dez vezes mais difícil do que produzir outros espectáculos culturais. Infelizmente, as empresas dificilmente patrocinam o teatro e as que patrocinam são a minoria. Outra

barreira são os preços proibitivos praticados no aluguel de auditórios. São de cortar a respiração”, lamentou.

Produtora

Com a Buco Produções, com a qual trabalha de forma independente, nos próximos anos está expectante, almeja motivar o empoderamento feminino, com a inserção de mais mulheres que amam esta arte, para que produzam e possam trazer um novo dinamismo, a fim de elevar as artes cénicas no país. “As mulheres são boas gestoras

dos seus lares, e o teatro é um lar. Desejo que mais mulheres se tornem produtoras independentes, como eu, e que cada uma possa ter sala de teatro, ou abrir uma escola, ou que possa gerir estes espaços. Vejo o futuro do teatro nas mãos das mulheres”, perspectivou. Num rescaldo que faz sobre o sector teatral no país, considera que não houve melhorias e, também, deplora o facto de nos últimos 20 anos não ser construído nenhuma sala de teatro, para alavancar a arte. “Infelizmente continuamos com as mesmas dificuldades e lamentações. É impossível haver evolução no sector, quando não há vontade política. O teatro ainda não é uma indústria em Angola”, lembrou. Actualmente, na área de produção, através da “Buco Produções”, tem servido de suporte ao sector, com a realização de várias peças teatrais, onde tem convidado actores angolanos a emprestarem os seus talentos. Sobre este trabalho, disse ser desafiador e, ao mesmo tempo, inspirador, um labor que faz com que se sinta útil, colaborativa, fazendo com que sonhe mais alto, motivo pelo qual anseia que o nosso país aposte ainda mais no talento das mulheres, por perceber que, de facto, elas são capazes de resol

ver determinados assuntos, ou desenvolver distintos projectos. “Não posso falar das políticas à cultura, porque não vejo nada. Nunca senti, de facto, um forte apoio para o teatro, apesar de ser a maior expressão cultural dos povos”, considerou.

Novos projectos

Em Agosto estreou a peça “É Luanda: não há sistema”, espectáculo idealizado para o Circuito Internacional de Teatro. Neste trabalho, pretendeu representar de forma ficcional dois mundos: o primeiro mais intimista, uma viagem sobre nós mesmos. O outro menos intimista, onde o caos permanece e não existe fronteira em relação ao outro, “como se a continuidade das suas casas e casebres fossem para lá dos seus quintais, já que se traduz a minha visão sobre a cidade que vivemos, Luanda”. “Nesta peça, além de produzir, também estou no elenco e, depois de um ano, estarei de volta aos palcos. O meu personagem é uma mulher saudosista, do seu tempo mais jovem. É a ficção possível dos nossos ambientes sociais e culturais. E pretendo que o hilariante ajude ao espectador ficar estupefacto e admirado, pelo que conseguirá descobrir e descodificar do seu mundo real; onde começa o humor, onde se situa a fronteira do

“As mulheres são boas gestoras dos seus lares, e o teatro é um lar. Desejo que mais mulheres se tornem produtoras independentes, como eu, e que cada uma possa ter uma sala de teatro ou abrir uma escola, ou que possa gerir estes espaços. Vejo o futuro do teatro nas mãos das mulheres”

“É gritante a falta de patrocínios. Produzir uma obra de teatro em Angola é dez vezes mais difícil do que produzir outros espectáculos culturais. Infelizmente, as empresas dificilmente patrocinam o teatro, e as que patrocinam são a minoria. Outra barreira são os preços proibitivos praticados no aluguel de auditórios. São de cortar a respiração”

surrealismo com o seu quotidiano”, contou.

Para Outubro, no dia 9, vai apresentar o teatral musical “Rosas e os espinhos”, no Xiyami Shopping, que retrata a vida de uma mãe (Rosa) que educou os filhos sozinha, mas com o passar do tempo sentiu falta do apoio de um companheiro. Numa altura em que Rosa já não

esperava mais nada da vida, o amor bateu novamente a porta do seu coração.

O trabalho, um produto da Buco Produções, tem como personagens Neide Van-dunem (Rosa), Eduardo Kialanda “Talibã” (Embondeiro), Betânia Oliveira (Raiz), Lúcia Brito (Caule), Lesliana Ngola (Pétala), Suyara Neto (Espinho) e Haziel Sabino (Folha).

CAPA

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2022-09-01T07:00:00.0000000Z

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