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Ultrapassou barreiras e é hoje professora universitária.

Texto : STELA CAMBAMBA Fotos : PEDRO NICODEMOS

Viu-se obrigada a abandonar o serviço de voluntária de enfermagem que realizava em algumas unidades sanitárias, passando a viver fechada por algum tempo, por força da perda da visão que começou aos 18 anos, tendo ficado totalmente cega aos 24. Ainda assim, Ana Fernandes Cristóvão Sebastião não baixou a crista, ergueu a cabeça, procurou aprender a escrita braille e hoje é professora na escola Óscar Ribas e na Universidade Lusíadas, em Luanda

Actualmente com 45 anos de idade, a professora Ana, como é chamada pelos colegas, solteira por opção, como fez questão de sublinhar, dedica grande parte do seu tempo a partilhar os seus conhecimentos com as pessoas com deficiência visual e que têm parte da visão afectada na Escola Óscar Ribas. Conta, com entusiasmo, que

por estar destacada no ensino primário, na sala de iniciação hebraica, naquela instituição onde aprendeu a dominar tal técnica, está entre as profissionais da instituição que recebem os alunos logo no início desta etapa.

Já na instituição de ensino superior onde lecciona, o cenário é o contrário. Os estudantes são pessoas sem nenhuma deficiência. Porém, um dos seus maiores desafios foi justamente aceitar leccionar no ensino especial, sobretudo com crianças, adolescentes e jovens que têm a mesma deficiência. Isso porque não pretendia trabalhar como professora do ensino especial. Depois de algum tempo, concluiu que seria bastante útil para a sociedade ajudar as outras pessoas a aprender a ler em hebraico e descobrirem as habilidades que cada uma tem.

Dificuldades

Ana Sebastião conta que não é fácil um deficiente visual estudar, isto porque grande parte de crianças,

“Infelizmente o material é muito caro e o país não produz”, afirmou, sublinhando que tem aprendido muito com os seus alunos e a vivenciar boas experiências

adolescentes e jovens que estão nesta condição são de famílias com baixa renda, ou seja, famílias que não têm recursos financeiros para custear as despesas. “Actualmente, nas escolas já é possível encontrar máquinas para escrever em hebraico, mas, ainda assim, não é suficiente, para o êxito das aulas”, frisou.

Contou que muitos dos alunos ficaram cegos depois de terem atingido uma certa idade ou classe estudantil, onde já sabiam ler e ter noções básicas de algumas coisas, pelo que, em seu entender, era bom que os mesmos materiais usados na escola os tivessem também em casa. Deste modo, os pais podiam ajudar a exercitar em casa porque há alunos que precisam apenas de saber o código braille, escrever numa velocidade aceitável para a classe em que se encontra e treinar o tacto. “Infelizmente o material é muito caro e o país não produz”, afirmou, sublinhando que tem aprendido muito com os seus alunos e a vivenciar boas experiências. Em relação às causas que podem levar uma pessoa a perder a visão, Ana Sebastião conta que naqueles casos em que a cegueira é provocada por doenças como a meningite, sarampo ou infecção urinária, acabam por ser perda total.

O momento

Ana recorda que quando perdeu totalmente a visão ficou “sem chão e rumo”. “Procurei ter força e dei uma reviravolta”, desabafa. Conta que até então desconhecia a existência de escolas especiais para pessoas com deficiência, até que alguém a parou na via pública e a orientou a procurar uma do género. Inicialmente era um bicho-de-sete-cabeças, mas com determinação foi possível terminar a formação. Na altura, em 2004, recorda,

a escola não tinha material de ensino para todos os alunos, pelo que, durante as aulas se limitava apenas a ouvir e posteriormente tinha de ser submetida a provas orais. Muito antes de os estudantes do seu grupo concluírem o ensino médio, a escola conseguiu o material de apoio, proporcionando uma reviravolta no sistema de ensino e aprendizagem. Com isso, terminou com êxito e decidiu então continuar os estudos, já consciente de que teria de enfrentar e ultrapassar vários obstáculos. “Para mim o mais importante é ter um emprego. Tenho uma vida minimamente estável, uma vez que além de trabalhar na escola Óscar Ribas, também sou professora universitária. Dou aulas de psicologia geral na Universidade Lusíada, onde anteriormente estudei”, detalhou com um sorriso.

Procurei ter força e dei uma reviravolta desabafa. Conta que até então desconhecia a existência de escolas especiais para pessoas com deficiência, até que alguém a parou na via pública e a orientou a procurar uma do género

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2022-08-01T07:00:00.0000000Z

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