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ENTREVISTA

Entrevista de: Miguel Kitari Fotos de: Carlos Moco

Agroindústria, fomento das pequenas e médias empresas, pescas e turismo são algumas das potencialidades da Itália que se quer passar para Angola. A revelação é de Mário Cabrini, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Angola/itália, em entrevista concedida ao Jornal Opaís.

Agroindústria, fomento das pequenas e médias empresas, pescas e turismo são algumas das potencialidades da Itália que se quer passar para Angola. Mário Cabrini, presidente da Câmara de Comércio e Indústria Angola/ Itália refere que a troca de experiências já é um facto. Falta é maximizar. Neste sentido, Cabrini diz mesmo que “grande parte do empresariado italiano ainda não conhece bem as oportunidades e potencialidades de Angola. Para promover as oportunidades em Angola, em Novembro acontece, em Luanda, um fórum de negócios, uma promoção da referida Câmara T

AItália é uma potência na indústria mundial. Aliás, faz parte do G-7. Como é que a Câmara de Comércio Angola/itália pode tirar proveito disso, por via dos seus membros?

A Itália é de facto uma potência mundial e temos procurado tirar o maior proveito das suas potencialidades. Como deve saber, a Itália aposta muito no fomento das pequenas e médias empresas, pois são essas que movimentam a economia dos países. Temos estado a trabalhar com empresários dos dois países, com vista a fortalecer a cooperação no domínio dos negócios. A Itália tem uma indústria regionalizada, de modos que a região que produz sapatos dedica-se apenas a essa actividade, assim como outras estão viradas para agroindústria, turismo e por aí adiante. É essa experiência que é preciso colher.

E como é que o empresariado italiano olha para as oportunidades de negócio e até mesmo de investimentos em Angola? Alguns conhecem Angola e vão tirando proveito das vantagens que existem em investir ou fazer negócios em Angola, com empresas nacionais. No entanto, a grande maioria não conhece nada sobre Angola e sobre as suas oportunidades. É sobre essa franja que temos estado a trabalhar. Estamos numa fase de acreditação da Câmara na Itália e depois estaremos mais expostos e seremos mais conhecidos. Há um conjunto de formalidades que estamos a cumprir e depois estaremos mais disponíveis. Seguramente, o empresariado italiano há-de vir para Angola com força.

E como tem feito isso?

Já realizamos um fórum na Itália. Grande parte das empresas que participaram eram da província do Namibe, onde existem muitas potencialidades, sobretudo no sector pesqueiro. E teremos outras iniciativas no sentido de incrementarmos os negócios e até os investimentos. Em Novembro, teremos o fórum Angola/itália e estamos a trabalhar nele de forma afincada. É sobre isso que fui chamado à embaixada de Itália para saber como estão os preparativos. Falei com o embaixador sobre o assunto.

E o que disse ao embaixador? Expliquei-lhe como está a andar o processo. Disse-lhe que o processo corre bem, sem constrangimentos. Este fórum podia ser realizado antes, mas decidimos alongálo para Novembro. Como sabe, Angola acabou de realizar eleições e depois vai precisar de formar um novo Governo. É com a vigência deste novo Governo, saído das eleições de 24 de Agosto, que vamos realizar o fórum. Esperamos ter muitas empresas e empresários dos dois países.

Falando nisso, sabemos que a Câmara de Comércio tem 120 associados e 20% são italianos. A que se deve esse fosso? A falta de conhecimento do empresariado italiano?

Sim. Mas podemos inverter este quadro nos próximos tempos. Como sabe, há mais

interesse dos empresários angolanos em cooperar com os italianos, devido à experiência acumulada. Além disso, a Câmara é Angola/itália e, sendo assim, é normal que tenha mais angolanos comparativamente aos italianos. E como lhe disse, estamos em fase de abrirmos a vertente Itália/angola e aí, sim, vamos dinamizar o comércio entre os dois países. A grande presença da Itália ainda é mesmo no sector petrolífero, tirando a INALCA, que actua no ramo da agroindústria, e uma empresa que fornece embalagem de papelão ao Grupo Carrinho e outras…

E a língua, é ou não um entrave no reforço da cooperação?

A língua costuma a ser um entrave em alguns casos. Para este caso concreto, não constitui problema, pois falamos todos a língua de origem latina e não há grandes diferenças. Se falarmos o italiano de forma pausada, seguramente um angolano há-de perceber. Salvo naquelas questões muito profundas, mas no essencial a frase será compreendida. Portanto, não há aqui um grande entrave.

A Itália é uma referência na agroindústria. Os empresários têm aproveitado bem isso?

Temos tido bons contactos neste sentido. Recentemente, o empresário Luís Troso, da província do Namibe, ligado à produção de tomate, esteve na Itália para ter contacto com a maquinaria que lhe poderá ser útil, no sentido de dinamizar a produção de tomate e seus derivados. É um processo que está no bom caminho e inscreve-se na diplomacia que a Câmara tem vindo a fazer. Outros empresários também estão interessados na aquisição de máquinas na Itália, para o fomento da produção agrícola e da indústria.

A Itália possui uma indústria regionalizada, de modo que a região que produz sapatos dedica-se apenas a essa actividade, assim como outras estão viradas para agroindústria, turismo e por aí adiante”

É preciso criar uma linha directa de exportação de produtos?

Será muito importante. Os produtos italianos que chegam a Angola são exportados/importados por via do Dubai ou de Portugal. Não é o recomendável, mas é o que acontece. Isso cria problemas para os investidores e para os consumidores, que recebem os produtos um pouco mais caro do que o expectável. O ideal será abrir uma linha directa de Itália para Angola.

E as rochas ornamentais?

A Itália tem produzido e fornecido equipamentos para corte e lapidação de rochas ornamentais nas províncias da Huíla e do Namibe. Este material entra em Angola por via de Portugal e da Espanha. A Itália tem interesse em mármore branco, igual ao que foi usado no Banco Nacional de Angola. Portanto, é um sector que também pode ser maximizado.

Parece que há mais negócio do que propriamente investimentos…

Sim. É mais fácil fazer negócio do que investimentos nesta fase. Como disse anteriormente, a grande presença italiana é no sector petrolífero. O quadro pode ser alterado, com o incremento das trocas comerciais entre os dois países. Para tal, reforço, é preciso haver um canal directo. E estamos esperançados que isso vai ocorrer nos próximos tempos. Por enquanto, o que acontece é o fornecimento de máquinas da Itália para Angola, quer para o sector petrolífero, quer para a agroindústria. E na construção do novo complexo da refinaria de Luanda, a Itália esteve presente com as suas empresas.

O fornecimento de energia e de água é ou não fundamental para se fazer investimentos num país?

É muito importante que um país tenha capacidade de fornecer energia e água aos industriais. Não se faz indústria sem energia e água corrente. Por exemplo, no sector do turismo, é fundamental que haja energia e água 24 horas ao dia. Na zona turística de Cabo Ledo, por exemplo, não existe energia da rede, tão pouco água. É tudo fonte alternativa. Isso acaba por encarecer o preço dos serviços, o que não é bom.

Futebol. Pode ou não entrar nas contas dos negócios, tendo em atenção a vasta experiência da Itália e o facto de Angola estar a caminhar?

Não é nosso foco, mas pode sim. Angola tem uma relação estreita com Portugal, por razões culturais, relação que se estende ao futebol, e ao desporto, de forma geral. Mas podemos sim estender a cooperação para aí. Recentemente, estive numa conversa de bar com um amigo em Itália e ele admitiu a possibilidade de estender a sua “caça” de talentos africanos a Angola. A demais, Angola teve um talento numa das maiores equipas de Itália, a Lazio de Roma. Refiro-me a Bastos. É um bom sinal.

Apenas está o Rwanda em condições de cumprir com os compromissos de Malabo, pelo facto de alocar regularmente, pelo menos, 12% do seu OGE ao sector agrário”

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2022-10-10T07:00:00.0000000Z

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